Com uma trajetória de 30 anos nas artes visuais, e após anos dedicado à educação e formação, Elias Muradi retomou seu ateliê e nos últimos dois anos tem se dedicado com afinco à produção de novas obras. Cerca de 40 esculturas, além de fotografias e um objeto estão reunidos nesta exposição de longa duração na Fundação Mokiti Okada, em São Paulo, que segue até fevereiro de 2021.
A produção de Elias Muradi dialoga com alguns artistas que buscavam uma dimensão espiritual da escultura do século XX como o romeno Constantin Brancusi (1876-1957) e o suíço Alberto Giacometti (1901-1966). O primeiro buscava o ideal e a pureza das formas, abandonando a "escultura representativa", figurativa. Ele se tornou mestre na simplificação de formas simbólicas e partia em direção a uma busca, que como ele mesmo dizia era "em direção a reunir todas as formas numa só. E isto é tão demorado como qualquer contemplação budista do universo ou como qualquer contemplação de um santo medieval do amor divino". Já o segundo, mais do que esculpir uma figura, Giacometti procurava em sua obra esculpir algo como um interdito, um "entre" que configura a distância que nos separa da escultura, da forma, instaurando um "espaço negativo".
É como se Muradi, baseando-se nas formas do corpo, esculpisse preenchendo vazios, formas dotadas de ausências presentes. Ao vermos suas esculturas temos que nos deixar ser "contaminados", invadidos sem reservas pelo objeto e não só nos mantermos à distância como meros espectadores. Muradi realça os vazios, expõe lacunas, interditos que dizem mais do que [não] aparentam. Uma troca de reciprocidades entre a presença e a ausência do corpo demonstrando - como dizia o filósofo francês Louis Marin que a imagem na arte é "uma economia paradoxal do Sentido".